Os temas sociais nas minisséries do Emmy 2021

O Emmy é uma das premiações de conteúdos audiovisuais mais renomadas da atualidade, considerado por muitos como o "oscar das séries". Nele, as obras televisivas que mais chamaram a atenção dos críticos no ano mais recente são indicadas à categorias como "melhor série de drama", "melhor série de comédia" e "melhor minissérie".

Em 2021, especificamente, a categoria de "melhor minissérie" foi a que mais se destacou. Segundo a esmagadora maioria dos críticos e do público, as 5 obras indicadas são séries muito bem construídas e desenvolvidas. Além disso, elas possuem um aspecto em comum: em diferentes formas e visões, todas elas cobrem temas sociais recorrentes nos dias de hoje. 

Hoje iremos discutir os temas sociais tratados em cada uma delas rapidamente e buscar entender a importância da representação dos tais. Após cada mini-análise, siga para assistir um vídeo-resenha (escolhido por mim como uma recomendação) sobre cada série. Cuidado com spoilers em alguns vídeos!


"I May Destroy You": "Eu posso te destruir". I May Destroy You é pessoalmente a minissérie favorita entre as 5 daquele que os escreve. Uma produção da HBO, a obra acompanhará uma fase da vida de Arabella, uma escritora em ascensão que se permite viver uma "noitada". Nesse dia, porém, ela perde a consciência e a sanidade devido ao uso de álcool e drogas ilícitas e é estuprada.

I May Destroy You mostrará os traumas gerados na personagem pela situação vivida, mas vai além disso: o foco principal da série é mostrar como o estupro se descreve em várias situações, não só a de violência. Em 10 episódios, a obra se construirá sobre personagens que foram estuprados de diferentes formas, sejam elas: um ato sexual não-consentido logo após um consentido; um ato sexual consentido mas com a retirada do preservativo sem o conhecimento da mulher; um ato sexual com uma pessoa fora de suas sanidades básicas; um ato sexual adjunto de violência física.

Como o próprio nome da série diz, uma situação de abuso sexual pode destruir vidas e marcar pessoas (de forma negativa) permanentemente. A obra faz um trabalho incrível ao mostrar que o estupro não é apenas o violento, mas que muitas vezes ele é normalizado em nossa sociedade. Enquanto série, "I May Destroy You" é muito interessante de se acompanhar, mas acima disso é uma aula para o telespectador.

I MAY DESTROY YOU - 5 motivos para ver essa série da HBO (por Carol Moreira)


"The Underground Railroad": Uma série da Amazon Prime Video que requer estômago. The Underground Railroad é uma minissérie que busca literar as rotas de fuga que pessoas escravizadas usavam nos tempos de escravidão. Acompanhamos a saga de Cora, uma pessoa escravizada cuja mãe fora a única de seu povo capaz de escapar de seu senhor. De forma visceral e totalmente conectada à violência que pessoas negras realmente sofreram na época, a obra busca nos mostrar como a humanidade é capaz de se perder quando esta acredita estar fazendo o correto aos olhos da razão.

The Underground Railroad não é só uma obra violenta sobre os tempos de escravidão, mas é também um estudo da mente humana e da capacidade que temos de perder a própria humanidade em nome do preconceito. Apesar de possuir um ritmo lento, a minissérie consegue horrorizar (de forma necessária) o telespectador e mostrar como e porque a escravidão respinga em nossa sociedade até os dias de hoje.

UMA OBRA PRIMA! - The Underground Railroad Crítica 1° Temporada (por Bilheterama)


"Mare of Easttown": Talvez a minissérie que, entre as 5, seja a menos conectada a temas sociais. Uma série criminal da HBO, Mare of Easttown acompanha a policial Mare enquanto essa tenta desvendar casos de meninas mortas e desaparecidas em sua pequena cidade, acreditando que estes estejam todos ligados. Com o passar de 7 episódios, a obra se desenvolve com um recheio de plottwists e cenas chocantes.

Porém, Mare of Easttown mostra mais que a casca do crime: a série estuda como a mulher é desconsiderada e subestimada em uma comunidade, ao mostrar meninas em situações dolorosas (mas ainda assim verdadeiras) e a própria protagonista tentando encontrar espaço em um mundo comandado majoritariamente por homens (a polícia). Mare, como a série é carinhosamente chamada por seus amantes, além de ser uma obra criminal extremamente envolvente, é também um estudo singelo da relação da mulher com a construção da sociedade.

MARE OF EASTTOWN DA HBO É A MELHOR MINISSÉRIE DE 2021? (por Série Maníacos)


"The Queen's Gambit": Uma das minisséries mais assistidas da história da Netflix. O Gambito da Rainha, como foi traduzida, foi uma explosão em muitas partes do mundo ao abrir espaço ao xadrez. A série foi a campeã da noite nessa categoria e não é por menos: ela envolve inclusive o telespectador que nada sabe sobre o jogo, em conjunto à amostragem de, assim com Mare of Easttown, uma mulher tentando ganhar espaço em um mundo com muitos homens.

Acompanhamos Beth Harmon, uma órfã enxadrista que sonha em se tornar uma das maiores jogadoras de xadrez da história, enquanto lida com seu vício em álcool. The Queen's Gambit é considerada por muitos a série mais envolvente e "viciante" das 5, por ter uma abordagem muito bem desenvolvida e um ritmo prazeroso de se acompanhar. Ainda assim, a obra se sobressai ao colocar uma mulher, em toda sua feminilidade, em um espaço masculino de, obviamente, muito preconceito.

O GAMBITO DA RAINHA É MINISSÉRIE DE EMMY! - Análise com spoilers (por Natália Kreuser)


"WandaVision": Uma minissérie que fez história ao se tornar uma das únicas obras do subgênero de "super-heróis" que foram reconhecidas pelo Emmy. Acompanhando um novo mundo criado por Wanda Maximoff, a Feiticeira Escarlate, o telespectador irá se aventurar por uma das únicas vezes em que a Marvel se permitiu utilizar um formato totalmente diferente.

Fugindo da fórmula muito utilizada no UCM (Universo Cinematográfico da Marvel), WandaVision é não só uma série que se desenvolve através da mente e da sanidade de sua protagonista, mas é também uma homenagem à diversas séries de comédia que marcaram décadas passadas da televisão. Aqui, vemos um caso que apenas vem se popularizando nos últimos anos: uma mulher sendo a protagonista de sua própria história. Apesar de dividir o nome com seu parceiro, a obra foca principalmente na Wanda enquanto pessoa com traumas, nem sempre ligados a um homem. Esse é um esteriótipo muito visto em filmes e séries de heróis: mulheres serem reduzidas apenas à "companheira" e "alicerce" do personagem masculino. É importante que uma das maiores produtoras desse tipo de conteúdo atualmente consiga desenvolver uma personagem extremamente forte (em todos os sentidos da palavra), colocá-la em uma situação romântica e ainda assim não reduzí-la a "interesse amoroso" e apenas isso.

O FINAL DE WANDAVISION - WandaVision S01E09 Review (por Mikannn)

Comentários

  1. Top demais as indicações. Eu só assisti o gâmbito da rainha e achei bão demais! Depois da leitura, me interessei nas outras.

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